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Mesmo inelegível, Bolsonaro ainda age como presidente na internet

O gesto é uma estratégia para reter um apoio que está cada dia menor e reforçar a ideia de que foi "injustiçado". Bolsonaro, que perdeu a eleição em 2022, foi declarado inelegível pelo TSE
  • Categoria: Geral
  • Publicação: 17/07/2023 23:00

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda fala em "nossa gestão" e usa verbos no presente para mostrar ações do governo dele, apresentadas com muitos números e misturadas a vídeos em que aparece cumprindo tarefas da "vida comum", nas redes sociais.

O gesto, segundo especialistas, é uma estratégia para reter um apoio que está cada dia menor e reforçar, simbolicamente, a narrativa de "injustiçado".

Fora do governo há mais de seis meses, Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral. Paralelo a isso, a aprovação da reforma tributária do governo de Luiz Inácio Lula da Silva conta como derrota para o ex-governante.

Apesar de ele insistir para que o seu partido fosse contra a proposta, o texto contou com o apoio de 20 dos 99 deputados de seu artido, o PL.

No início da semana, Bolsonaro relembrou um decreto antigo, de sua autoria, que estabelece a obrigatoriedade do pregão eletrônico em cidades pequenas.

"Essa iniciativa do Governo Bolsonaro amplia a concorrência nas licitações públicas e permite que empresas de todo o Brasil participem destes processos realizados pelos Municípios", escreveu o ex-presidente.

O decreto é de setembro de 2019, primeiro ano do governo dele.

O ex-presidente frequentemente apresenta números que demonstram ações da gestão dele e compara suas práticas com as do governo Lula.

Polarização

A estratégia vem sendo utilizada com mais força em momentos mais sensíveis para o ex-presidente, como a posse de Lula e a decisão do TSE que o tornou inelegível. Nos últimos dias, a aprovação da reforma tributária na Câmara foi o ponto-chave.

"Bolsonaro age com a intenção de atrair parte da opinião pública a favor da sua causa, de que foi supostamente injustiçado e que as forças do Judiciário tentam boicotá-lo.

É também uma forma de criar uma situação quase que utópica", avaliou o cientista político Paulo Ramirez, doutor pela PUC-SP e professor da ESPM.

Como mostrou a Coluna do Estadão, Bolsonaro ainda tem influência no seu segmento político, mas vem em crescente desprestígio entre os pares.

A aprovação da reforma expôs essa tendência: enquanto o ex-presidente rivalizou com a proposta, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, buscou apaziguar os ânimos da base e defendeu a negociação de emendas com o governo.

Rotina

Outra linha frequente nas redes de Bolsonaro são publicações que mostram o ex-presidente cumprindo tarefas do dia a dia. Embora ele já fizesse isso durante a gestão, hoje o ex-presidente aparece mais acessível, com menos assessores e sem "cercadinhos".

O gesto reforça a narrativa de que ele é um outsider do mundo político, embora tenha sido deputado por mais de 30 anos antes de assumir a Presidência.

Uma situação que simboliza esse movimento foi a noite de sexta-feira. Bolsonaro esteve em Goiânia, um dos seus redutos eleitorais, para "ir ao dentista e tomar caldo de cana", de acordo com o que divulgou o deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO).

Cercado por uma grande quantidade de apoiadores, o ex-presidente agradeceu o carinho do público, que entoava "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão".

Na última segunda, ele publicou um vídeo cortando o cabelo em uma barbearia simples, no Distrito Federal.

No vídeo, o ex-presidente se deixa fotografar pelas pessoas, tira foto com crianças e está acompanhado por apenas um assessor, que permanece distante.

No dia 8 de julho, Bolsonaro renovou sua carteira de habilitação.

Nas imagens divulgadas nas redes sociais, ele vai a uma clínica para fazer os exames médicos em Taguatinga (DF), aparentando estar desacompanhado.

A pessoa que o filma grava o ex-presidente fazendo os testes de visão, pressão e, depois, na saída, tirando fotos com crianças.

Inelegível

A inelegibilidade de Bolsonaro, declarada pelo TSE, levanta um alerta sobre possíveis ilícitos que o ex-presidente poderia cometer ao usar dessa estratégia nas redes.

Na visão de especialistas, como Bolsonaro está fora do cenário político institucional, a hipótese é remota.

A advogada Izabelle Paes, sócia do escritório Callado, Petrin, Paes e Cezar, atua na área de Direito Eleitoral e avalia que Bolsonaro tem agido dentro dos limites da liberdade de expressão: "Mesmo diante dessa limitação ao direito de ser votado, existe a liberdade de prosseguir divulgando as realizações do seu mandato".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.