Bolsonaro tenta se descolar de Cid no caso das joias enfatizou não ter autorizado venda de kits de luxo
Ex-presidente diz que o militar tinha autonomia no cargo de ajudante de ordens e enfatizou "Eu não mandei ele vender nada".
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- Publicação: 19/08/2023 12:04
Trazido, nos últimos dias, para o epicentro de escândalos em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou se desvencilhar de uma eventual acusação do seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, no caso da venda de joias presenteadas por governos estrangeiros e desviadas do acervo da União.
O ex-chefe do Executivo empurrou para o militar uma possível responsabilidade no episódio.
"Ele tinha autonomia.
Eu não mandei ele vender nada.
Joias é tudo como (item) personalíssimo, ou seja, é do presidente", afirmou Bolsonaro, nesta sexta-feira, ao Correio, em Abadiânia (GO), numa parada para tomar café da manhã.
Ele seguia para Goiânia, onde recebeu o título de cidadão honorário. De acordo com o ex-presidente, "o tempo vai esclarecer tudo" a respeito da investigação da Polícia Federal.
Em entrevista à revista Veja, o advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt afirmou que o cliente confessaria a venda das joias e a entrega dos valores em espécie para Bolsonaro.
Nesta sexta-feira, porém, o defensor mudou a versão e disse que o militar não vai "dedurar" o ex-presidente.
Na cidade goiana, Bolsonaro comentou que a legislação sobre itens personalíssimos "é confusa".
Segundo ele, a portaria de 2018, do governo Temer, permitiria que as joias fossem de uso pessoal.
Mas, em sua gestão, em 2021, essa portaria foi revogada, e joias recebidas voltaram a ser consideradas patrimônio da União.
"Você recebe vários presentes de fora do Brasil, nenhum vai comigo, todos vão direto para cadastrar e classificar.
Tenho nove mil itens, metade são camisetas e bonés.
Agora, o que fazer com isso?
Só guardar num canto, mas é só dor de cabeça", alegou.
Por conta da venda de joias, Bolsonaro está sendo investigado e foi alvo, com a mulher, Michelle Bolsonaro, de quebra de sigilos fiscais e bancários, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-presidente admitiu que a situação "incomoda", mas disse "não ter problema".
Sob as especulações de que vai ser preso, comentou: "Estou sob pressão desde antes de assumir a Presidência".
Em seguida, Bolsonaro tirou fotos com fãs. Eufóricos com a presença dele, apoiadores pediram para que concorra à presidência em 2026 e declararam aval ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), caso o ex-chefe do Executivo continue inelegível.
"Não sei, por enquanto não posso, mas, até lá, isso pode mudar", respondeu a um simpatizante.
Ao chegar a Goiânia, o ex-presidente foi direto para a casa do senador Wilder Morais (PL-GO), onde participou de um almoço com lideranças do PL.
Na residência, estavam políticos locais do partido, entre eles o vereador Willian Veloso (PL-GO).
De acordo com Veloso, uma dos temas tratados foi a disputa da prefeitura da capital goiana nas próximas eleições municipais, em 2024.
Na sequência, Bolsonaro foi ao dentista, no setor Alphaville, bairro nobre da cidade.
A consulta marcada com o odontologista Rildo Lasmar, conhecido por cuidar do sorriso de celebridades, foi feita para colocar lentes de contato dentais.
No local, uma legião de apoiadores o aguardavam em clima de festa. Ninguém parecia se importar com as acusações contra o ex-presidente.
Aos gritos de "mito", as pessoas se estreitavam para tirar uma foto.
Sarah Eloany, 31 anos, levou a mãe, Eurisene Bonifácio, 62 anos, para conhecer o ex-chefe do Executivo.
"Era o meu maior sonho", disse Eurisene, que abraçou emocionada o político.
Joia de presente
Quando desceu em uma região comercial, Bolsonaro recebeu muitos presentes, entre eles, uma joia.
Ao ganhar o pingente, ele brincou:
"Você não faz ideia da dor de cabeça que presentes como esse estão me dando".
Ele passou o resto da tarde em uma consulta com nutrólogo, em uma clínica de estética.
O último compromisso do ex-presidente foi uma homenagem na Assembleia Legislativa.
Ele recebeu o título de Cidadão Honorário Goiano.
Parlamentares apoiadores iniciaram a cerimônia ressaltando a importância do ex-chefe do Executivo para o estado.