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Bolsonaristas silenciam diante de possível delação de Mauro Cid

Após compartilharem intensamente críticas de advogado de Cid sobre cobertura do caso, bolsonaristas silenciam sobre possível delação premiada
  • Categoria: Geral
  • Publicação: 08/09/2023 20:57

Nos maiores grupos pró-Jair Bolsonaro no Telegram e no Facebook, a reação à proposta de delação premiada entregue pelo ex-ajudante de ordens do ex-presidente Mauro Cid ao Supremo Tribunal Federal (STF) é de silêncio.

Nas últimas semanas, bolsonaristas compartilharam milhares de vezes uma mensagem de áudio em que o advogado de Cid, Cezar Bitencourt, critica a cobertura da imprensa sobre o caso, negando que seu cliente tenha acusado o ex-presidente em depoimentos à Polícia Federal.

Agora que o tenente-coronel e ex-braço direito de Bolsonaro entregou, em 6 de setembro, um termo de intenção de acordo de delação premiada à Suprema Corte, a verborragia bolsonarista foi substituída pela quietude.

Entre familiares e políticos aliados ao ex-presidente, a reação é semelhante.

Cid está preso desde maio, após ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal sobre a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid no sistema do Ministério da Saúde.

Ele também está no centro de uma investigação que apura suposto esquema de negociação ilegal de joias dadas por delegações estrangeiras à Presidência. 

Defesa de Bolsonaro nega ilegalidades.

Mauro Cid também é apontado como um dos articuladores de uma suposta trama para organizar um golpe de estado no Brasil após a derrota de Bolsonaro para o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições do ano passado.

Segundo a PF, foram encontrados no celular de Cid uma minuta para um golpe e um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Após uma série de idas e vindas sobre a possibilidade de uma delação premiada que poderia encurralar o ex-presidente, a defesa de Cid esteve no gabinete do ministro Alexandre de Moraes na quarta-feira (6/9) e propôs colaboração com a Justiça.

Os termos da delação ainda não são conhecidos, mas, segundo a Globonews e o portal UOL, a Polícia Federal informou que concorda com a proposta.

Para ser confirmada, ela ainda depende de parecer positivo do Ministério Público Federal (MPF) e da aceitação de Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos envolvendo o tenente-coronel Cid.

Euforia pré-delação

Em um grupo com quase 300 mil bolsonaristas, as críticas do advogado de Cid à imprensa foram compartilhadas pelo menos 5 vezes em 24h, no dia 1º de setembro.

Divulgadas nas redes sociais em texto, vídeo e áudio, inclusive por autoridades como as deputadas federais Bia Kicis (PL) e Carla Zambelli (PL), as falas do advogado geraram comoção.

"A verdade sempre aparece. Deus no comando", escreveu um apoiador do ex-presidente.

"Deus é fiel, parabéns doutor", disse outro.

"Uma pessoa íntegra e de caráter , anda pela via correta com base na verdade. Parabéns ao advogado Dr. Cezar Bitencourt", publicou um terceiro.

Na mensagem enviada à jornalista Camila Bonfim, da GloboNews, Bitencourt diz que "estão colocando palavras" e "acusações a Bolsonaro que não existem" na boca de Cid.

"Cid assumiu tudo.

Não colocou Bolsonaro em nada.

Não tem nenhuma acusação de corrupção, envolvimento de Bolsonaro, envolvimento ou suspeita de Bolsonaro.

A defesa não está colocando o Cid contra Bolsonaro", afirmou o advogado nas mensagens, publicadas no blog da jornalista no portal G1.

Na mensagem, Bitencourt se declara "estarrecido" com a forma como o tema era abordado por jornalistas na televisão.

Após divulgar a fala do advogado, um dos principais perfis de apoio a Bolsonaro, com 2 milhões de seguidores só no X (antigo Twitter), escreveu: "Quero capa da Veja com o novo áudio do advogado do Cid! Cadê?"

Silêncio pós-anúncio

O tom bolsonarista mudou, no entanto, quando a imprensa noticiou, nesta quinta-feira, que Mauro Cid procurou o STF para possivelmente apresentar evidências sobre um suposto envolvimento de Jair Bolsonaro em atividades ilegais.

Bolsonaro nega veementemente qualquer ilegalidade.

Para que uma delação premiada seja aceita, a Justiça exige a entrega de provas concretas e não aceita apenas falas e acusações.

O tema, que passou em branco nos principais grupos de apoio ao presidente, tampouco mobilizou a defesa de bolsonaristas no mundo político.

Tradicionais aliados, como Bia Kicis, Carla Zambelli, Nikolas Ferreira (PL), Ricardo Salles (PL) e Magno Malta (PL), além dos filhos do presidente, Carlos, Flavio e Eduardo Bolsonaro, não comentaram o anúncio de intenção de delação.

No X (antigo Twitter), alguns apoiadores do ex-presidente comentaram uma suposta contradição entre o apoio de petistas e simpatizantes à delação premiada de Cid e as críticas de lulistas às delações da operação Lava Jato.

7 de setembro e Toffoli

A estratégia adotada pela grande maioria dos bolsonaristas, nas redes e grupos de apoio ao ex-presidente, foi apostar em outros temas.

Os mais frequentes foram a primeira celebração do 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, após o fim do governo Bolsonaro, e a decisão do ministro do STF Dias Toffoli, que anulou "todas e quaisquer provas obtidas" a partir do acordo de leniência celebrado pela Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato.

No Telegram, montagens supostamente mostrando imagens da celebração da independência em 2022 e 2023 sugeriam esvaziamento na gestão "comunista", segundo bolsonaristas, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a Polícia Federal e o Exército, o desfile de 7 de setembro em Brasília reuniu cerca de 50 mil pessoas – 20 mil a mais que a estimativa do governo.

Em seus perfis, Bolsonaro publicou imagens da celebração durante seu governo, seguido pelos filhos Flavio e Eduardo, pela esposa Michele, e por apoiadores como Nikolas Ferreira, que definiu a celebração como “171 de setembro”.

Tofolli, por sua vez, vem sendo frequentemente chamado de "advogado do PT" em publicações contrárias a sua decisão de invalidar o acordo de leniência da empreiteira Odebrecht na Operação Lava Jato.

Indicado por Lula ao STF em 2009, Toffoli foi de fato advogado do partido nas eleições de 1998, 2002 e 2006, além de ter trabalhado como assessor jurídico da sigla na Câmara dos Deputados entre 1995 e 2000.

Na decisão, Toffoli definiu a prisão de Lula como um dos “maiores erros judiciários da história do país".