Bolsonaro é acusado por ex-ajudante de tramar golpe de Estado
Tenente-coronel diz, em delação premiada, que ex-presidente consultou Forças Armadas sobre golpe que impediria posse de Lula. Ex-chefe do Executivo nega
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- Publicação: 22/09/2023 22:17
Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid voltou a complicar a situação do ex-presidente ao revelar, em sua delação premiada, que o antigo chefe discutiu com a cúpula das Forças Armadas a minuta de um golpe que impediria a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
A denúncia do militar provocou manifestações de parlamentares da base do governo e causou incômodo nas três forças. Bolsonaro, em nota, negou que tenha discutido o assunto com oficiais e sustentou que não adotaria medidas nesse sentido.
A informação de que o ex-presidente chegou a considerar um golpe foi revelada pela colunista Bela Megale, do jornal O Globo.
No depoimento à Polícia Federal, Cid teria contado ainda que o único, entre os três comandantes militares, a aderir ao plano teria sido o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha.
Bolsonaro refutou a suposta revelação de Cid, conforme nota divulgada por seus advogados: "Durante todo o seu governo, jamais compactuou com qualquer movimento ou projeto que não tivesse respaldo em lei, ou seja, sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição", diz o comunicado.
"Jamais tomou qualquer atitude que afrontasse os limites e garantias estabelecidas pela Constituição e, via de efeito, o Estado Democrático", acrescenta.
Já o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, admitiu que o fato constrange.
"Desejamos muito que tudo seja absolutamente esclarecido.
Precisamos desses nomes. Evidentemente, que constrange esse ambiente em que a gente vive", frisou.
"Essa aura de suspeição coletiva nos incomoda, mas essas coisas que saíram hoje (nesta quinta-feira) são relativas ao governo passado, a comandantes passados.
Não mexe com ninguém que está na ativa", emendou.
Líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a delação de Cid evidencia a participação de Bolsonaro em um "enredo golpista".
"Agora, tudo faz sentido, todos os movimentos que ocorreram nesse fatídico dezembro do ano passado.
O dia 12 (de dezembro), quando tentaram invadir o hotel onde estava o presidente da República eleito; a bomba que foi alocada e, por pouco, não foi detonada na véspera de Natal aqui em Brasília, e o dia 8 de janeiro.
Tudo fazia parte de um enredo golpista que tinha sob comando o senhor Jair Bolsonaro", acusou.
A relatora da CPMI dos atos golpistas, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), anunciou que vai pedir a quebra de sigilo dos nomes citados por Cid na delação.
"Estamos protocolando hoje (nesta quinta-feira) o requerimento em relação ao almirante Garnier, diante das informações que foram colocadas pela imprensa brasileira", informou.
A parlamentar assegurou que fez o mesmo pedido envolvendo Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, acusado pelo delator de ter entregado a minuta golpista ao ex-presidente.
Desfile de tanques
O almirante Garnier era, entre os três comandantes das forças, o mais empolgado com o bolsonarismo.
Ele usava suas redes sociais para enaltecer o governo.
Alguns episódios marcam sua passagem pelo comando da Marinha.
Foi o idealizador do controvertido desfile de tanques na Esplanada, justamente no dia que a Câmara votou a adoção do voto impresso nas eleições, em 10 de agosto de 2021.
Assim que assumiu o cargo, após Bolsonaro demitir o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e os comandantes das Forças Armadas, Garnier demonstrou estreito alinhamento com o ex-presidente, que fazia discursos antidemocráticos e participou de atos onde se convocava "intervenção militar".
A sugestão da visita das tropas à Praça dos Três Poderes partiu da Marinha, foi chancelada pelo então ministro da Defesa, Braga Netto, e autorizada por Bolsonaro.
O desfile foi constrangedor para o governo, que exibiu na Esplanada tanques obsoletos e alguns que soltavam fumaças excessivamente.
Garnier era um entusiasta do voto impresso, bandeira dos bolsonaristas.
Em julho de 2022, o militar declarou, em Fortaleza, que os brasileiros precisavam ter certeza dos votos que registrariam nas urnas.
Dias depois, em 6 de julho, numa audiência pública na Câmara, Garnier foi questionado pelo então deputado Marcelo Calero (PSD-RJ) sobre essa declaração.
Para o parlamentar, a fala do almirante era "bastante perigosa e perturbadora" do ponto de vista institucional.
Com a palavra, o militar reafirmou suas declarações e ainda acrescentou que nenhum sistema é imune a falhas e sabotagens, referindo-se às urnas.
"É assim, como disse o nosso ministro, em qualquer sistema digital.
Não é característica de um ou outro sistema digital ser imune a falhas, a sabotagens, a erros.
Nada disso está garantido por decreto.
Tudo isso tem que ser comprovado", sustentou.