Notícias

Regulamentação das redes sociais ganha força após morte de vítima de fake news "Entenda o caso"

Morte de estudante vítima de mentiras sobre um suposto relacionamento com youtuber deflagra reações contra o vale-tudo das redes e põe pressão no Congresso para aprovar projeto de regulação
  • Categoria: Geral
  • Publicação: 26/12/2023 08:37

A discussão envolvendo a regulamentação das redes sociais voltou a ganhar força no país após a repercussão do caso da morte da jovem Jéssica Canedo.

Ministros e parlamentares governistas usaram as redes sociais para defender o Projeto de Lei (PL) das Fake News, que está parado na Câmara e enfrenta grande resistência da oposição.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, defendeu que a regulação das redes sociais é um "imperativo civilizatório" sem o qual não se tem como falar em "democracia ou mesmo em dignidade".

"A irresponsabilidade das empresas que regem as redes sociais diante de conteúdos que outros irresponsáveis e mesmo criminosos (alguns envolvidos na política institucional) nela propagam tem destruído famílias e impossibilitado uma vida social minimamente saudável", disse.

O próprio ministro tem sido alvo de ataques nas redes sociais.

Ele pediu, na semana passada, que o Ministério Público investigue a autoria de comentários racistas feitos em suas postagens.

O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara, Zeca Dirceu (PT-PR), cobrou o avanço da tramitação do projeto.

"Isso deve ser prioridade já no início do ano para o Parlamento".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no discurso de Natal, também falou sobre o descontrole das redes.

"Vamos combater as fake news, a desinformação e os discursos de ódio.

(Vamos) valorizar a verdade, o diálogo entre as pessoas".

Com o endosso do presidente, o relator do projeto na Câmara, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), acredita que o projeto ganhará força no Parlamento a partir de fevereiro e, com alguns ajustes, pode ganhar adesão de mais deputados para que avance na Casa.

Ao Correio, o parlamentar disse acreditar ser possível votar a matéria.

"O presidente (da Câmara) Arthur Lira (PP-AL) já alertou inúmeras vezes sobre a relevância da matéria.

Penso que, na retomada das atividades da Câmara dos Deputados, o colégio de líderes poderá conhecer o atual estado da arte e avaliar a possibilidade de votar a matéria".

"Sou otimista, imagino que devamos votar.

A regulação de plataformas digitais é tema em debate no mundo inteiro, e acredito que devemos nos sintonizar com o mundo", avaliou Orlando Silva.

Opositores do projeto, porém, acusam o governo de usar a morte de Jéssica Canedo para reacender o debate sobre a regulação das plataformas digitais.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) chamou os parlamentares de esquerda de "canalhas" e disse que a ala política é "doente".

"Sobem em cima da morte de uma inocente para pautar censura e agenda política".

O projeto também enfrenta resistência do lobby das big techs, principalmente, aquelas que controlam as redes sociais, como X (antigo Twitter) e Facebook, além do Google.

As plataformas falam em cerceamento da liberdade de expressão.

Assim que o relatório final da matéria foi entregue pelo relator na Câmara, o Google iniciou uma campanha na página inicial do buscador contra o texto, argumentando que "o PL das Fake News pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil".

A mensagem foi tirada do ar depois que a empresa foi notificada pelo Ministério da Justiça.

Entenda o caso


Jéssica Canedo, 22 anos, tirou a própria vida após páginas de fofoca nas redes sociais divulgarem supostas conversas da jovem com o humorista Whindersson Nunes, com quem estaria iniciando um relacionamento.

O caso ganhou proporção depois que um perfil no Instagram chamado Choquei compartilhou prints dessas mensagens sem antes verificar a veracidade da informação.

As conversas eram falsas. Antes de morrer, Jéssica publicou em sua conta que as mensagens se tratavam de uma mentira e que estava sofrendo ataques na internet depois de ter seu nome divulgado pela página de fofoca.

De acordo com a jovem e com Whindersson Nunes, que também negou a veracidade da informação, o suposto diálogo foi montado por uma conta falsa, com o intuito de ganhar engajamento com o nome do humorista.

Por conta dos ataques, a mãe de Jéssica chegou a pedir para que a publicação envolvendo o nome da jovem fosse retirada das páginas de fofoca, para evitar que a filha atentasse contra a própria vida, já que ela sofria de depressão.

O administrador do Choquei ironizou a situação em outra postagem.

Horas depois, a família confirmou a morte da estudante.

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que um inquérito foi instaurado para investigar as reais causas da morte de Jéssica.

O humorista Whindersson Nunes lamentou o ocorrido, se solidarizou com a família da estudante e garantiu que vai unir esforços para criar a Lei Jéssica Almeida, que visa garantir um ambiente virtual mais seguro.