Um dia após reunião golpista com Bolsonaro, militares atacaram as urnas na Câmara
Ministro da Defesa à época, general Nogueira participou da reunião com o então presidente, em julho de 2022, na qual foi proposta "virada de mesa". No dia seguinte, o militar esteve no Congresso; hoje, ele é investigado pela PF
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- Publicação: 09/02/2024 14:00
Um dia depois da reunião organizada por Jair Bolsonaro, em 5 de julho de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro ataca o sistema eleitoral e diz a seus principais auxiliares que é preciso reagir antes das eleições e incita seus ministros a "agirem", o ministro da Defesa à época, general Paulo Sérgio Nogueira, compareceu a uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
O assunto da pauta era "prioridades do ministério" para aquele ano, mas o militar tratou de outras temas e criticou as urnas eletrônicas.
Disse aos deputados que não há programa imune ao ataque e citou como exemplo o cartão de crédito clonado de sua mulher.
Nogueira foi um dos alvos da busca e apreensão da operação "Tempus Veritatis", nesta quinta-feira (8/2), da Polícia Federal, na investigação sobre a tentativa de um golpe de Estado.
"Sabemos muito bem que esse sistema eletrônico necessita sempre de aperfeiçoamento.
Não há programa imune a um ataque, imune a uma invasão.
Não há!
Estão aí os bancos que gastam milhões de reais com segurança.
Eu tive meu cartão clonado há 3 semanas e minha esposa, no ano passado. Então, isso é fato", declarou Nogueira, numa audiência pública da Câmara, em 6 de julho de 2022.
O general foi um dos atingidos pela operação de ontem.
Na reunião no Planalto, cujo conteúdo agora vem à tona, Nogueira estava sentado muito próximo de Bolsonaro, que, apesar do tom golpista do encontro, se dirigiu a ele dizendo que não falava em "providência de força".
E disse ao general: "Não é dar tiro.
Ô Paulo Sérgio, vou botar a tropa na rua?
Tocar fogo aí?
Metralhar?
Não é isso, porra".
O vídeo dessa reunião foi revelado pela colunista Bela Megale, do O Globo.
Na audiência pública da Câmara, estavam presentes outros militares do governo, como o então comandante da Marinha, Almir Garnier, outro alvo da PF nesta quinta.
Ele também duvidou das urnas eletrônicas e afirmou que nenhum sistema está "imune a falhas".
"Eu sou brasileiro, tenho direito a ter opinião.
Ninguém vai dizer que eu não tenho direito a ter opinião.
É assim, como disse o nosso ministro, em qualquer sistema digital.
Não é característica de um ou outro sistema digital ser imune a falhas, a sabotagens, a erros.
Nada disso está garantido por decreto.
Tudo isso tem que ser comprovado", declarou Garnier na reunião.